Massacre de seis usuários e defensores de terras rurais
Na noite de 21 de março de 2019, três trabalhadores rurais foram mortos, em estilo de execução com tiros simples na cabeça, numa barraca na propriedade do Sr. Fernando Ferreira Rosa Filho (Fernandinho), seu chefe. Os assassinos atearam fogo nos corpos e na barraca.
Após o assassinato dos três trabalhadores rurais, os assassinos seguiram para matar Dilma Ferreira Silva - uma destacada ativista - em sua casa no assentamento Salvador Alhende, no município de Baião, a 14 quilômetros de distância do local dos três primeiros assassinatos. Dilma Silva, seu marido Claudinor Amaro Costa da Silva, e um amigo e vizinho, Milton Lopes, foram mortos. As mãos e os pés das vítimas foram amarrados e então eles foram esfaqueados até a morte.
Dilma Ferreira Silva, uma das assassinadas no ataque, era coordenadora regional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), defendia as pessoas que, como ela, acreditavam não ter sido devidamente indenizadas por danos resultantes da construção de barragens. Ela lutou por décadas contra o projeto da megabarragem de Tucuruí, iniciado durante a ditadura militar, e símbolo da desapropriação no Estado do Pará. Em particular, Dilma Ferreira lutou pelas mulheres afetadas pelas barragens, ajudou a desenvolver projetos de geração de renda para as mulheres. Uma conhecida ativista, em 2011, Dilma Ferreira entregou um documento reivindicando os direitos das pessoas afetadas pelas barragens à então presidente Dilma Rousseff.
Em 21 de março de 2019, por volta das 16h00, cinco homens em três motocicletas foram vistos roubando gasolina da motocicleta de um fazendeiro vizinho, antes de se dirigirem ao rancho do Sr. Fernando Ferreira Rosa Filho, próximo à rodovia Transcametá (BR 422). As vítimas, Marlete da Silva Oliveira, Raimundo de Jesus Ferreira e Venilson da Silva Santos, trabalhavam para Fernandinho. Os três trabalhadores foram mortos com tiros na cabeça. A gasolina foi presumivelmente usada para queimar os corpos e a barraca.
Cena do crime 1: tenda queimada onde os corpos carbonizados foram encontrados.
Os pistoleiros então se dirigiram à casa de Dilma Ferreira no Assentamento Renato Lima, um projeto de reforma agrária para agricultores pobres. Os assassinos, divididos em três motocicletas, foram vistos entrando na propriedade da Dilma Fereira por volta das 19:20h. Por volta das 23h30min e 01h00min, Dilma Fereira, seu marido Claudianor Amaro Costa da Silva e seu amigo e vizinho Milton Lopes já estavam mortos.
Cena do crime 2: Faca alegadamente usada nos crimes e marcas de sangue deixadas na entrada do bar.
De acordo com relatórios policiais, as mãos e os pés de Dilma Silva foram encontrados amarrados. Seu abdômen e pescoço foram abertos a golpes de faca. Claudinor Silva, marido de Dilma, foi amordaçado e também apunhalado. Seu corpo foi encontrado na cama com as tripas para fora. Lopes também foi encontrado esfaqueado no peito e no abdômen.
Recriamos um modelo 3D da cena do crime na casa de Dilma Silva usando fotografias tiradas durante uma visita de campo ao local, e fotografias policiais usadas como prova no caso legal para demonstrar visualmente a posição dos corpos das três vítimas como foram encontrados na manhã após o brutal triplo homicídio.
O caso recebeu ampla atenção nacional e internacional, o que levou as autoridades brasileiras a agirem. No dia 26 de março, Fernandinho, o principal suspeito, foi preso por atuar como o mentor das morte dos três trabalhadores, e também de Dilma Ferreira, seu marido e sua amiga.
A polícia acredita que Fernandinho contratou cinco assassinos (entre eles quatro irmãos) para praticar a execução porque temia que seus funcionários - que haviam reclamado de suas condições de trabalho - dissessem às autoridades que ele estava se dedicando à extração ilegal de madeira, assim como ao tráfico de drogas. Segundo informações, Fernandinho ordenou o assassinato de Dilma Ferreira porque ela havia ameaçado denunciar o corte ilegal à polícia e ao IBAMA. Dentre os matadores contratados por Fernandinho, Valdenir Farias de Lima confessou ter participado do crime. O Cosme Alves está na prisão. Marlon Alves e Alan Alves foram mortos pela polícia em Marabá, no Estado do Pará. Glaucimar Alves permanece foragido.
Os restos carbonizados do barraco de madeira onde Marlete da Silva Oliveira, Raimundo de Jesus Ferreira e Venilson da Silva Santos foram executados e depois queimados, ainda hoje podem ser encontrados. A casa onde Dilma Ferreira Silva, Claudinor Amaro Costa da Silva e Milton Lopes foram mortos ainda existe e resquícios do triplo assassinato - a faca, manchas de sangue e garrafas - ainda se encontram visíveis onde o crime foi cometido. Lá remanescem como símbolos duradouros da violência perpetrada contra os trabalhadores sem-terra e a população rural. O desmatamento continua a prosperar na região.